EUA: governo sugere possível ligação entre Tylenol na gestação e risco de autismo; especialistas pedem cautela
Washington, 25 de setembro de 2025 — O governo dos Estados Unidos, por meio do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) e da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), levantou recentemente a hipótese de que o uso de acetaminofeno (conhecido como Tylenol) durante a gravidez possa estar associado a um aumento no risco de autismo em crianças. A medida gerou intenso debate na comunidade médica, em organizações de saúde pública e entre especialistas.
O que foi anunciado
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Em 22 de setembro, o presidente Donald Trump e o Secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr. fizeram declarações públicas sugerindo que há “evidências crescentes” de uma ligação entre o uso de acetaminofeno por gestantes e transtornos do desenvolvimento neurológico, como o autismo.
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As autoridades anunciaram também que a FDA iniciará o processo de alteração da bula (rótulo) do acetaminofeno para refletir os potenciais riscos quando usado durante a gestação.
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Faz parte da mais ampla iniciativa do governo norte-americano de investigar causas ambientais, nutricionais e médicas do autismo. Também foi citado um novo caminho terapêutico para sintomas associados ao autismo com o uso de leucovorin (um derivado do folato) em casos específicos.
O que dizem os especialistas e contrapartes
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Muitas entidades médicas e regulatórias têm alertado que associações não implicam causalidade. Ou seja: alguns estudos observacionais mostraram correlações, mas isso não prova que o Tylenol causa autismo.
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A World Health Organization (WHO) manifestou que, até o momento, não existe evidência científica conclusiva de que o uso de acetaminofeno durante a gravidez cause autismo.
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A empresa fabricante do Tylenol, Kenvue, em declarações oficiais, rejeitou as alegações, afirmando que a ciência independente mostra que o medicamento “não causa autismo” e que ele continua sendo uma das opções mais seguras para alívio de dores e febre durante a gestação, quando usado adequadamente.
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Organizações científicas voltadas ao autismo também pedem cuidado para não gerar pânico ou desinformação. A Autism Science Foundation, por exemplo, declarou que a ciência disponível é limitada, com resultados conflitantes e que ainda se trata de uma hipótese não comprovada.
Evidências científicas
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Entre os estudos citados, há relatórios que identificam correlações entre exposição pré-natal ao acetaminofeno e maiores taxas de diagnósticos de autismo ou de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
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Porém, outras pesquisas controlando variáveis como predisposição genética mostram que, ao considerar esses fatores, o risco aparente muitas vezes diminui ou some. Ou seja: as diferenças familiares, genéticas ou de contexto parecem ter um papel importante.
Orientações atuais
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Profissionais de saúde reforçam: em casos de febre alta ou dor durante a gravidez, não se deve evitar o tratamento por completo — pois febre não controlada ou infecções também podem trazer riscos.
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Gestantes devem seguir orientação médica, usando o mínimo necessário do medicamento, por períodos mais curtos, e somente quando necessário. Essa postura é coerente com o princípio de precaução.
✅ Conclusão
A nova posição do governo americano traz à tona uma questão importante: a necessidade de mais pesquisas rigorosas que avaliem possíveis riscos do uso de medicamentos no período gestacional. No entanto, até o momento, não há evidência científica robusta que comprove que o acetaminofeno (Tylenol) causa autismo. Especialistas recomendam cautela na interpretação dos anúncios públicos, para evitar alarmismo desnecessário, e reforçam que decisões médicas específicas devem ser tomadas com base em orientação profissional.
Disponível em:
https://www.who.int/westernpacific/news/item/24-09-2025-who-statement-on-autism-related-issues
https://www.cbsnews.com/news/trump-autism-tylenol-medical-experts/
https://autismsciencefoundation.org/press_releases/asf-statement-wh-briefing/
